(Matéria publicada no site do jornal - Folha da Manhã)
Após dois anos e meio desde o fechamento do jornal Monitor
Campista — que era o terceiro periódico mais antigo do país em atividade — o
prédio de sua sede está ocupado por estabelecimentos comerciais, e todo o seu
arquivo foi levado para longe de Campos, onde ficou a lacuna da história
documentada. Com o objetivo de discutir questões a cerca da venda do imóvel e
da conservação do arquivo, uma reunião chegou a ser marcada entre
representantes dos Diários Associados — grupo que o Monitor Campista integra — e
os acionistas do jornal, neste mês. A reunião não pode ser realizada, devido à
ausência de representante da corporação, e a pergunta continua no ar: todo o
patrimônio documentado e armazenado durante 175 anos de atividades deverá
continuar longe do alcance da população?
De acordo com os acionistas do Monitor Campista, Benedito Marques dos Santos Filho e Maria Cristina Torres Lima, nenhuma das ações tomadas pelos Diários Associados até agora recebeu seu consentimento. Ambos compareceram ao escritório do Monitor, mantido na rua Tenete Coronel Cardoso (antiga Rua Formosa) para a reunião, buscando uma justificativa para a venda do imóvel e o esvaziamento do patrimônio material.
A nossa insatisfação está no fato de que eles simplesmente não nos dão nenhuma satisfação para suas decisões. Primeiro de tudo, queremos que todo o arquivo material, transferido para local que desconheço, seja devolvido a Campos. Não faz sentido que este material não esteja à disposição de nossos estudantes, professores e de todos que se interessem em pesquisar sobre fatos ocorridos na cidade que remontam ao século XIX. Além disso, não houve notificação oficial nenhuma da venda do prédio do jornal. Precisamos deliberar isso — comenta Lima.
A mesma opinião é partilhada por Marques, que destaca a importância do acervo para a história.
O Monitor Campista era o terceiro jornal mais antigo do país em atividade, e quinto de todo o continente. A história da publicação se confunde com a do próprio município, pois foram quase dois séculos de cobertura dos principais acontecimentos de Campos e da região. Hoje, não sabemos que utilidade todo este acervo está tendo por lá, mas sem dúvida ele seria muito mais proveitoso para nós aqui — disse, ao acrescentar.
Continuaremos tomando todas as medidas legais cabíveis, não iremos nos calar — declara Marques.
Segundo o secretário Municipal de Cultura, Orávio de Campos, não há possibilidade da compra do título do jornal pela Prefeitura, mas existe sim um interesse por parte do poder público em arquivar e prezar pela conservação e manutenção do material.
A história do município está sendo perdida e podemos sentir isto refletido até mesmo na demora da inauguração do Museu de Campos, simplesmente pela falta de acervo. Já se tentou discutir a respeito da compra do Monitor Campista no passado, mas a possibilidade foi descartada. Mas nós do governo nos prontificamos a arquivar todo esta relevante contribuição para a cultura e a história de Campos no Arquivo Público Municipal, onde ele estará sendo aproveitado realmente, até porque é um material necessário para os pesquisadores do município — diz o secretário, que também participou de grupos de protesto contra o fechamento do jornal na época em que suas atividades foram encerradas.
A equipe da Folha buscou uma resposta do presidente dos Diários Associados, Maurício Dinepi, mas até o fechamento desta edição não obteve resposta. Onde o acervo do Monitor Campista se encontra, assim como suas condições de conservação e possibilidade de retorno a Campos permanecem, até o momento, como incógnitas, e ainda não há previsão para novas reuniões.
Capas do Jornal "Monitor Campista", o jornal mais antigo de Campos dos
Goytacazes e terceiro mais antigo do Brasil, veja
abaixo as capas de edições desde a primeira, em 4 de janeiro de 1834, intitulado "O Campista", até a última ...